sábado, 3 de março de 2007

Pugno

Lutador.
Nos dedos o sangue das feridas,
chamar-lhe-ão feridas de batalha,
resquícios da guerra.

Porque nos teus olhos há a inocência,
a meiguice daqueles meninos
que queremos beijar e não se pode.

Lutador.
É este o teu nome.
Mesmo depois de tudo acabar,
será este o teu nome,
sempre.

Quando te sararem as feridas das mãos,
ensiná-las-ás a escrever,
não palavras de guerra,
mas gestos de paz.

Lutador.
Tens os olhos cansados de tanto ver,
perdeste a alma por aí,
não procuras nada nem ninguém.

És teu e não te pertences.
És tu e não te reconheces.

Um dia chamar-te-ão lutador
e tu nem olharás para trás.
Mas, as mãos,
essas continuaram repletas de feridas.

2 comentários:

linfoma_a-escrota disse...

Bebi atónito a garrafa sozinho,
foi como margarina a escorrer castidade
tapando as falhas no tronco da palmeira
que, de súbito, se transformará em pedra
e, mais tarde, quererá outro suco colorífico
para as truculentas engrenagens do humor
se descontrairem e sobreviverem a prumo
os não lavrados cultivos de pousio coado.

Acontece e gaguejo a tropeçar, cocoba,
às vezes, sem saber ou quando alguém
faz anos quebro tijolos com os caninos
e acordo maquilhado, vestido de marinheiro
com a tatuagem “a morte não é o fim”
desenhada a lapiseira no escroto rosa.

Com a alba cantada vinda do celeiro
pus-me a pé em direcção à estação,
num coreto de circo, rodeado de caganita
de pomba e minha mochila revistada,
ouvi a memória curta magoar um cãozinho
de orelhas arrebitadamente estrábicas,
devido ao permanente pânico que deve
ser estar habituado a ser alimentado
por tamanha besta selvagem e indomável.

Ainda hoje se vinga dos maus-tratos
que o fascismo lhe infligiu, traumatizado pelos
homicídios aos camuflados inimigos políticos,
em cada relance azarento, quando se cruza
com o vidro da loja de artesanato, vê-os.

Viciado a omnipotentes direitos solitários,
é o cozinheiro colonial sem culpa, sensibilizado
para a ignorância, agora vende estórias de graça
retidas nos pulmões dos pormenores perdidos,
grave comunicação incomodativa, somente interesse
por chaminé ilegal, de poliester, inocente, um dia
expande-se na firme trela da decisão que
já actua sozinha, emperrada hipocondria, escalando
sempre a mesma duna moçambicana, lá adormeceu
em choque, irradiando olhares distorcidos
a inalar o carvão das baionetas enferrujadas,
foram as visões de verdade da criança adulta
relembrando sua sofregidão paralizada em Sines.

A digestão foi interrompida pela melancia
do minotauro em guerra, delira com contacto
que o alucine da realidade até à campainha das
flores de beladonna, brancos pimentos que boiam
a pedido e ornamentam nosso licor que aceita
mas receia, atento à incapacidade cognitiva,
enquanto que, o cachorro Pirata que o acompanha
olha o vazio saturado, tentando desfocar
as vistas iluminadas pelo candeeiro fundido
de sua desistência, jovens em férias ouvem
rádio no bar em frente e encevadam a liberdade,
sem saberem do passado reaccionário do edifício.

Só com quem todos gozam e evitam falo eu,
mais vale a piadas farpas que despovoam
por honra à segurança, rotulando com severidade
sorridente, para ver se me insiro nas afinidades
de camisas bem parecidas e borbulha espremida,
aqui deixado à deriva descobrem-se conteúdos
inesperados, a dolorosa resistência que assombra
catacumbas de camaradas perdidos à floresta,
exasperei escutando labaredas oclusas de esperança
pois, clama por ferrolhos endógenos cerrados
que nenhuma candeia de vergonha contemporânea
pretende tão subterrânemente desenterrar, será que
mais valia ser peremptório e exclamar, crispado,
outra violência típica que recebe mal se aproxima:
“Desaparece daqui velho louco chôcho, estou
ocupado, cheiras mal e acabei de me perfumar!”



in QUIMICOTERAPIA 2004

WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

Conceição Bernardino disse...

Olá,
Espero que me desculpe forma como faço os meus comentários, mas é pura e verdadeira...
Para mim não chega, dizer está bonito ou lindo – por isso gosto de deixar pensamentos frases de outros autores como presente da minha gratidão e do meu encanto do que leio, do que observo nas imagens e na escrita.
É a minha maneira de ser...
A critica faço-as, da forma como somos tratados pelo Estado que ignora os problemas da nossa sociedade e como pouco ligam aos grandes talentos que encontro nos blogs.
Peço desculpa e se alguém não gostar da forma como faço os meus comentários agradecia que me dissessem pois tentarei melhorar.
Sou apenas uma amadora de escrita que escreve pela beleza de sentir na escrita as palavras que me vão na alma e penso que é essa a beleza que encontro naquilo que leio cada um escreve com a sua beleza.
Não quero com isto desrespeitar ninguém até porque as palavras lindas, bonito têm um grande significado no meu vocabulário.
Boa semana
Desculpem-me a repetição do post, mas julgo que nem todos entenderam...

Esta é a frase que vos deixo: se pudesses estar perto de mim talvez encontrasses a resposta porque te olho, porque choro sem te conhecer. Se um dia te encontrar entregarei o meu sorriso, é nele que escondo tudo aquilo que sinto só para te ver feliz.

Beijinhos
Conceição Bernardino
http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com

 
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