segunda-feira, 25 de junho de 2007

Sem Saber

Estamos todos tão sós.

Há em ti a crueldade de vinte anos que não viveste,
As borbulhas que, de repente, se transformaram em rugas,
Os sonhos que se fizeram em estilhaços de ousadia.

Hoje, olhas-te ao espelho
E já não sabes quem és,
Se a filha, se a mãe, se a avó…

Já não sabes se hás-de sorrir,
Ou se hás-de esconder as lágrimas,
Quando a tristeza do tempo te assolar a alma.

Queres desistir,
Voltar à concha,
Acreditar que podes ainda ser a mulher que um dia foste.

Mas o tempo foge,
O tempo foge e tu já não sabes jogar à apanhada.
Faltam-te as forças,
Falha-te a agilidade.

E quando cais,
Já não sabes se queres erguer-te,
Se queres fitar o horizonte e seguir em frente,
Ou simplesmente parar,
Esquecer-te do mundo,
E cair no mais profundo de ti.

Já não sabes se queres ouvir o mundo,
Como o ouvias nos dias de solidão,
Ou se preferes morrer no silêncio do teu quarto.

Tens setenta anos e chamam-te parva,
- Estás velha,
Pensam eles, enquanto fingem sorrir-te com carinho.

Tontos.
Eles a julgar-te velha e tu a vê-los tropeçar na senda da vida.
Quem será mais capaz?
Os que tropeçam nos degraus da escada ou os que o fazem nos degraus da vida?

Isa Mestre

2 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Desculpa um "cota" vir comentar,mas na verdade gostei e acho que NUNCA deves deixar de escrever...
jnhs

Anónimo disse...

simplesmente lindo! adorei, obrigada
Sílvia

 
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