sábado, 13 de dezembro de 2008

Sem Regresso

Partir.
Abandonar-me.
Abandonar-te.

Foi isto que pensei antes do último beijo,
Do último toque suave,
Da última gota do teu perfume a invadir-me as narinas.

Deixar de ser eu para poder deixar de ser tua.
Estou confusa. Apetece-me cair,
Apetece-me dormir até que chova,
Até que a água arremesse esta solidão que guardaste para me oferecer no último dia.

Estavas ainda a dormir.
Saí sem dizer adeus,
Saí sem saber se voltava,
Sai sem saber se poderia dizer-te que sou incapaz de voltar.

Sei que me amas,
Sei que me amarás mesmo quando não estiver,
Sei que não sou aquilo que escolheste
E isso basta-me para partir.

Não tenhas medo.
Afinal, queria apenas poder amar por instantes,
E isso nunca um outro alguém poderia fazê-lo de forma tão perfeita.

Isa Mestre

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Absurdo

Não tenhas medo, não será o fim.
Fica quieto. Deixa-me apenas falar.
Cala a ansiedade e deixa-me dizer-te tudo o que tenho cá dentro.

Talvez seja pouco,
Talvez não sirva para alimentar o mundo,
Mas sou eu. Somos nós. É aquilo a que muitos julgam chamar amor.

Não sei se te amo,
Não sei se saberei sempre sorrir-te como te sorrio hoje,
Afinal, talvez o amor seja isto mesmo:
Não saber se se sabe.

Não sabendo se te sei,
Consigo saber que te quero e te pertenço,
Que te olho e acredito jamais poder olhar alguém desta forma.

Não sei se posso amar-te para sempre,
Não sei se o presente pode mascarar-se de futuro,
Sei que estou aqui,
Sei que não será o fim.

Isa Mestre

sábado, 3 de maio de 2008

Fora de Mim

Às vezes sou eu e não me pertenço.
E tu perguntas-me,
- quem és?

E eu não sei,
Eu não sei se algum dia poderei saber.

Invento qualquer coisa,
No amor vale tudo.

Se calhar sou daqueles que não sabe quem é.

Será que acreditas nisto?

È melhor pensar em algo mais criativo.

Sou daqueles que acordam e sentem que não são nada.

Ris-te de mim.

Filósofo ou tolo?
Já nem sabes que chamar-me.

Porque, na verdade,
Quando nos estendemos ao comprido na cama,
Nem eu nem tu somos nada,
E somos ambos o nada que somos.

Isa Mestre

segunda-feira, 17 de março de 2008

Entre mim e o silêncio

Estás entre mim e o silêncio.

Escrevo-te todos os dias
E todos os dias finjo não saber quem és.

Há muito que te conheci,
Há muito que entraste no meu coração.

Espero-te junto dos parágrafos que nunca ousarei mostrar a ninguém,
Espero-te junto da voz que me chama ridícula,
Quando o coração traz o teu nome e os olhos ameaçam chorar.

Hoje, estou triste.

Chamo por ti.
Sei que vens,
Sei que virás sempre.

Sei que,
Mesmo quando a minha voz rouca do tempo
Ousar chamar-te uma vez mais,
O teu coração ouvir-me-á sem precisar de usar palavras.

Depois…
Apenas os nossos braços a entrelaçar-se no tempo.

Dir-te-ia Obrigada,
Se as palavras escrevessem o que tenho dentro do peito,
Dir-te-ia que hás-de viver em mim para sempre,
Que hei-de escrever o teu sorriso em todas as cartas de amor.

(Para ti, que ouves o meu coração sempre. Não te perguntes se és tu. São para ti estas palavras.)

Isa Mestre

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Voz

Fala-me,
Peço-te.

Dita-me palavras,
Por frágeis e trémulas que sejam as minhas mãos,
Dita-me palavras para que possa escrever-te.

Deixa contar ao mundo que vives em mim.

És o homem mais belo do mundo.

Nunca te vi e tenho a certeza disso.
Olho-te quando me sorris,
Vejo-te quando fechas os olhos para voltar no dia seguinte.

Dormes em mim.
Acordas por vezes,
Tens medo,
Tens frio,
Apetece-te fugir.

Corro por ti,
Vagabundeamos por este mundo
E chamamos loucos aos que dormem na rua,
Quando sabemos tão bem,
Que os loucos somos nós.

Fala-me,
Digo-te nessas noites de insónia.
E, por vezes, ficas apenas calado,
Como que fazendo-me duvidar que estás aí.

Senta-te um pouco,
Oferece-me palavras que é o que de melhor tem a vida.

Sorris e vais embora.
Amanhã voltarás e eu nunca saberei se ouço a tua voz,
Eu nunca saberei se amanhã conseguirei escrever-te como te escrevo hoje.

Isa Mestre

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Último Minuto

Sorrir-te-ia.

Era o que faria se os minutos,
De repente,
Fossem horas.

Se os rios fossem oceanos,
Se as sementes fossem árvores,
Se o meu sorriso,
Fosse o teu mais profundo sentir.

Sorrir-te-ia como menino inocente.
Dir-te-ia que foste a minha flor,
Amar-te-ia até ao último centímetro deste coração que ainda chama por ti.

É tarde,
Dizem eles.

É tarde,
Quando me rodeiam e me chamam.

É tarde,
Quando vêm vestidos de negro e trazem nas asas a capa da morte.

É tarde,
Quando me tocam e não sinto.
Quando me olham e não vejo.

É tarde,
Quando chamam por mim,
Quando o bombeiro extenuado pousa as mãos sobre o meu peito.

É tarde,
Quando seguram nas mãos o meu telemóvel e digitam o teu número.

É tarde,
Quando quero apenas dizer-lhes que ficará tudo bem.
Que voltarei a tocar-te, que voltarei a estar junto de ti.

É tarde,
Quando a palavra se torna apenas dor,
Quando as sílabas se desfazem em sofrimento.

Morreu.
Disseram-te.

A mim, quando cheguei,
Perguntaram-me qual a última coisa que teria feito,
- Sorrir-te.
Respondi.

Não sei se é verdade, mas creio que naquele momento, te sorri.

Isa Mestre
 
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